Christine Hoover
Na minha cozinha há uma pequena escrivaninha. Tudo que
chega em casa nas mochilas dos meus filhos – projetos de arte, bilhetes da
escola, livros da biblioteca, autorizações para passeios – vai para aquela
mesinha. Quando meu marido finalmente chega em casa ao final do dia, ele joga
seus papéis do trabalho sobre esta mesma mesinha. Todavia, a maioria das pilhas
de coisas na escrivaninha é minha – receitas rasgadas de revistas, contas a
pagar, livros que emprestei da biblioteca (mas que ainda não tive tempo de ler),
e múltiplas listas ou memorandos de coisas a fazer anotados em papel rascunho
que se perderam debaixo de todo o amontoado. Parece que todos os aspectos da
minha vida passam por aquela mesa, e, embora eu seja, em geral, uma pessoa bem
organizada, é uma luta manter minha escrivaninha limpa.
Eu já percebi que minha
mesa é um microcosmo da minha vida. Embora eu me esforce em mantê-la limpa, com
os papéis e listas de tarefas mais importantes por cima, ela raramente está
organizada com tudo no seu lugar.
VIDAS LIMPAS
Como mulheres, nossos
horários e agendas estão cheios. As demandas pelo nosso tempo são infindáveis,
e as necessidades das pessoas ao nosso redor são contínuas. É fácil sair
correndo a cada dia, atendendo a esta e aquela necessidade, esquecendo para
onde estamos correndo ou o por quê da correria. Como minha escrivaninha, nossas
vidas se tornam bagunçadas e difíceis de administrar, levando a situações de
estafa ou ministério sem vida. Nossas vidas precisam passar constantemente por
“faxinas” se queremos conhecer e manter nossas prioridades dadas por Deus.
LIÇÕES DE PESSOAS ACUMULADORAS
[COLECIONADORAS COMPULSIVAS]
Nada me faz querer
limpar todos os cantos e nichos da minha casa mais do que assistir a um
episódio do programa de TV “Colecionadoras Compulsivas“. Quando assisto os
casos de famílias que se sobrecarregaram de coisas desnecessárias, tanto
fisicamente e emocionalmente, eu vejo pessoas cuja habilidade de priorizar foi
completamente perdida. Elas são incapazes de distinguir o que é importante para
elas. Para que não nos tornemos “colecionadoras compulsivas de ministérios”, nós
podemos aplicar o mesmo processo que os especialistas neste problema usam para
ajudar as pessoas a purgarem suas casas. O processo se baseia em três questões.
- O que
devo guardar?
Quando nossas vidas estão cheias demais,
frequentemente é porque perdemos de vista quem nós somos ou especificamente o
que Deus nos deu para fazer. Em vez de estreitar o nosso foco, acreditamos que
quanto mais tivermos em nossas mãos, mais importantes somos, mais influência
teremos, e mais estamos fazendo para honrar o Senhor. Infelizmente, nós nos
tornamos colecionadoras compulsivas de glória que estão ocupadas demais para
ouvir a voz de Deus, e nada que fazemos é feito com excelência.
E se nós
nos tornássemos mulheres com apenas algumas paixões fixas? E se nós nos
focássemos somente nessas paixões, à medida que fossemos crescendo nos nossos
dons espirituais e no seu uso com excelência “como para o Senhor”? Se fosse assim, não apenas Deus poderia nos
usar de uma forma mais dirigida, com maior impacto, mas também nós nos
libertaríamos da sensação de responsabilidade por cada pessoa e cada
necessidade que encontramos pela frente. Quando conhecemos nosso chamado e
nossas paixões, eles moldam as nossas agendas, nossas listas de tarefas a
fazer, as pessoas com quem gastamos tempo, e os assuntos em que pensamos.
·
Por que Deus chamou você para o ministério?
·
O que Deus chamou você a fazer no seu papel específico
de ministério?
·
O que você adora fazer?
·
Em que área você tem dons e habilidades? A sua agenda
e sua lista de tarefas refletem isso?
- O que
devo descartar?
Muitas vezes quando eu faço arrumação de um armário,
há algumas coisas que eu não uso, mas que não quero jogar fora nem passar para
frente. Eu sinto um vínculo com essas coisas ou me convenço de que me serão
úteis no futuro, o que raramente acontece. Geralmente, acabam na pilha de lixo
na minha próxima faxina.
Discernir como Deus quer nos usar no nosso ministério
geralmente não é a parte mais difícil da faxina; é o descarte de ministérios ou
tarefas com os quais temos vínculos. Pensamos assim: “Se eu não fizer isso,
quem vai fazer?” Ou então, “Esta realmente não é minha área de dons, mas vou
continuar fazendo porque eu queria ter dons nesta área”.
Esses pensamentos exemplificam nossas dificuldades com
a simplificação das nossas vidas: ou estamos descontentes com o ministério que
Deus nos deu, e, portanto, seguramos com mais força ainda aquelas coisas que
desejamos, ou não confiamos que Deus pode sustentar nosso ministério.
Meu marido e eu estamos no nosso terceiro ano de
implantação de igrejas. Na nossa igreja anterior, Deus me usou de uma maneira
diferente daquela em que Ele me usa agora. Enquanto antes eu estava ensinando e
liderando muitas mulheres, agora estou exercendo um ministério mais individual:
discipulando, recebendo pessoas para jantar, aconselhando mulheres, trabalhando
na recepção da igreja aos domingos, e servindo no ministério infantil. Meu
ministério não tem mais tanto glamour
como tinha antes, e eu tenho lutado contra rebelião e orgulho, numa batalha com
Deus em relação aos seus planos para mim.
Em outras ocasiões, eu tenho assumido responsabilidade
demais, achando que tudo dependia de mim. Eu sentia a necessidade de receber
pessoalmente cada nova família da nossa igreja. Eu precisava meter minha mão em
todas as áreas, apenas para me certificar de que as coisas seriam feitas
corretamente. A lista poderia continuar, mas Deus tem me lembrado do princípio
do semeador que se encontra em I Coríntios 3.6: “Eu plantei, Apolo irrigou, mas Deus concedeu o crescimento”.
Nós não fomos chamadas a fazer tudo, ser tudo para
todas as pessoas, ou imitar os ministérios e dons de outros. Quando conseguimos
nos libertar de nossas próprias expectativas e confiamos em Deus para nos usar
na tarefa para a qual Ele nos chamou, experimentamos liberdade, assim como
aquele sentimento de “armário arrumado”.
- O que
devo passar para frente?
De que forma uma pessoa colecionadora compulsiva se
mantém livre de recaídas? Em vez de fazer compras ou colecionar coisas sem
propósito, elas aprendem a diferença entre necessidades e desejos, entre lixo e
tesouros, entre o bom e o melhor.
Quando aprendemos a avaliar as oportunidades segundo
nossas prioridades dadas por Deus, e a dizer não para todas as coisas que não
se encaixam neste critério, nós também poderemos manter um ministério livre de
bagunça. Há alguns aspectos das nossas vidas pessoais e ministeriais que
nenhuma outra pessoa pode fazer, mas há muitos outros aspectos nos quais nós
não temos dons ou que podemos delegar a outras pessoas.
Embora dê uma sensação de “falta de espiritualidade”,
saber delegar é um aspecto importante do ministério. Os discípulos assim fizeram
na igreja primitiva, segundo vemos em Atos 6.1-4, quando as muitas necessidades
das pessoas os impediam de manter suas prioridades dadas por Deus de oração e
ensino. Nós devemos seguir seu exemplo, e aprender a discernir quais tarefas e
ministérios são essenciais e quais podem ser passadas para outras pessoas que
têm os dons para tais trabalhos.
Como implantadora de igrejas, há sempre uma grande
tentação de querer alargar o foco específico que Deus me deu. Assim como em
qualquer ministério, sempre há mais que poderia ser feito. Eu preciso me
lembrar quase todos os dias das prioridades que Deus me deu: de ser discípulo
fiel, esposa amorosa, mãe com propósitos certos, sábia dona de casa, e serva no
ministério da igreja. Quando eu sou obediente nestas coisas, Deus é fiel para
realizar o trabalho ministerial, propriamente dito, na minha família, nos meus
relacionamentos, na minha igreja, e na minha comunidade.
Christine
Hoover é implantadora de igrejas e escritora free-lancer. Ela e seu marido
residem com seus três filhos em Charlottesville, Virgninia (EUA). Você também
poderá seguir o seu blog pessoal: hooverhousehold.blogspot.com.
tradução de Kathleen Goldsmith Killing
tradução de Kathleen Goldsmith Killing
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